Em 2024, o mercado de crédito com garantia cresceu 23% no Brasil, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito e Poupança (Abecip). Esse avanço está ligado ao interesse dos consumidores em buscar alternativas com taxas de juros menores diante da manutenção da Selic em patamares elevados.
Entre as modalidades em expansão, o empréstimo com garantia de veículo tem atraído atenção de trabalhadores autônomos, profissionais liberais e famílias que precisam reorganizar dívidas ou financiar novos projetos.
Como funciona o crédito com garantia de veículo
O empréstimo com garantia de veículo, também chamado de refinanciamento, funciona de maneira simples: o consumidor utiliza um automóvel quitado como garantia para obter o crédito. O bem continua no nome do proprietário e pode ser utilizado normalmente, mas fica alienado à instituição financeira até que a dívida seja quitada.
Esse modelo reduz o risco para os bancos e fintechs, que passam a oferecer condições mais atrativas, como prazos maiores e juros inferiores aos do crédito pessoal sem garantia. O valor liberado costuma variar entre 60% e 90% do preço de mercado do veículo, apurado por tabelas de referência como a Fipe.
Na prática, o cliente apresenta a documentação do automóvel e comprova sua regularidade, incluindo ausência de multas ou restrições. A partir da análise de crédito, o banco define o valor liberado e as condições do contrato. Por se tratar de operação com menor risco de inadimplência, a taxa final tende a ser mais competitiva.
Comparação com outras linhas de crédito
O crédito pessoal sem garantia é uma das opções mais utilizadas no Brasil, mas também uma das mais caras. De acordo com o Banco Central, em 2024 a taxa média desse tipo de operação ultrapassava 100% ao ano. Já no crédito com garantia de veículo, a média se manteve abaixo de 30% ao ano, dependendo da instituição e do perfil do contratante.
Outro comparativo relevante é com o cartão de crédito rotativo. Segundo levantamento da Serasa, os juros médios desse tipo de dívida superavam 400% ao ano, tornando a modalidade insustentável para quem não consegue pagar a fatura em dia. Nesse contexto, recorrer ao veículo como garantia pode ser uma alternativa mais viável para organizar as finanças sem comprometer tanto a renda futura.
Esse diferencial ajuda a explicar o crescimento da modalidade, que vem sendo explorada tanto por grandes bancos quanto por fintechs especializadas em crédito digital. A expansão do setor mostra como os consumidores estão dispostos a oferecer garantias em troca de condições que caibam no orçamento.
Perfis que mais recorrem a essa modalidade
Dados da Abecip indicam que os principais tomadores de empréstimo com garantia de veículo são pessoas físicas de renda média, que possuem automóveis quitados e buscam crédito para reorganizar dívidas caras ou realizar investimentos pessoais.
Profissionais autônomos e empreendedores também aparecem com destaque, já que o crédito tradicional muitas vezes exige comprovação de renda formal. O veículo passa a ser um recurso acessível para viabilizar empréstimos que poderiam ser negados em linhas sem garantia.
Outro grupo que utiliza a modalidade são famílias que desejam financiar projetos de médio prazo, como reformas residenciais, abertura de pequenos negócios ou até despesas de educação. A previsibilidade das parcelas ajuda a planejar melhor o orçamento, especialmente em cenários de instabilidade econômica.
Riscos e cuidados necessários
Apesar das vantagens, o empréstimo com garantia de veículo exige atenção. O principal risco é a perda do bem em caso de inadimplência. Se as parcelas não forem pagas, a instituição financeira pode executar a garantia e tomar o automóvel para saldar a dívida.
Por isso, especialistas recomendam que o consumidor avalie sua real capacidade de pagamento antes de contratar. Simulações prévias e análise de despesas fixas são etapas importantes para evitar o endividamento excessivo. Outro ponto é a comparação entre instituições. Algumas oferecem taxas menores, mas incluem tarifas adicionais que aumentam o custo efetivo total (CET) do contrato.
Também é fundamental verificar a reputação da empresa credora. O crescimento do crédito digital ampliou a presença de fintechs, mas o consumidor deve garantir que a instituição seja regulada pelo Banco Central. Isso evita fraudes e assegura maior transparência no contrato.
O crédito com garantia no planejamento financeiro
O empréstimo com garantia de veículo pode ser uma ferramenta para reequilibrar as finanças, desde que usado de forma responsável. Para quem tem dívidas caras, como cheque especial ou rotativo do cartão, migrar para uma taxa menor ajuda a reduzir o impacto dos juros acumulados.
Esse modelo também pode viabilizar novos projetos sem comprometer de forma desproporcional a renda mensal. No entanto, especialistas em finanças pessoais lembram que, por envolver um bem de alto valor, a decisão deve ser tomada com cautela e inserida em um planejamento mais amplo.
Nesse contexto, surge a dúvida recorrente: quando vale a pena contratar empréstimo com garantia de veículo? A resposta depende do objetivo do crédito, da capacidade de pagamento e do nível de organização do orçamento. Em situações de substituição de dívidas caras ou financiamento de projetos estruturados, a modalidade pode ser vantajosa.
Perspectivas para o mercado de crédito com garantia
O setor deve continuar em expansão nos próximos anos, impulsionado pela digitalização dos serviços financeiros e pelo interesse dos consumidores em buscar alternativas ao crédito tradicional. As fintechs devem ganhar espaço, oferecendo processos mais rápidos e menos burocráticos, enquanto os bancos tradicionais tendem a reforçar suas carteiras para manter competitividade.
O desempenho do mercado automotivo também influencia diretamente a modalidade. A valorização ou desvalorização dos veículos impacta o valor liberado e a atratividade das operações. Em um país onde o automóvel é um dos principais bens de consumo da população, a tendência é que o crédito com garantia de veículo continue sendo uma opção relevante no portfólio das instituições financeiras.
Para os consumidores, a decisão passa por equilibrar segurança e oportunidade. Quando planejado com responsabilidade, o uso do veículo como garantia pode representar não apenas acesso a crédito mais barato, mas também a chance de reorganizar a vida financeira em um cenário de juros ainda elevados.